Se você deseja fazer parte da maior economia consumidora do mundo, do terceiro país em número de habitantes, que movimentou mais de $1,14 trilhão de dólares em 2023 somente em vendas online (enquanto no Brasil foram 185 bilhões de reais), você precisa conhecer este guia de “Por que vender nos EUA?”.
Boa leitura!
O guia de Cross Border para vender nos EUA
Se você deseja vender seus produtos nos Estados Unidos, você está no lugar certo. Neste guia vamos compartilhar dados de mercado, além de informações sobre compliance e tributação.
Geral:
Os Estados Unidos são conhecidos por serem um país acolhedor para negócios estrangeiros. Possuem muitos acordos internacionais, baixos impostos, facilidades logísticas e de meios de pagamento.
Mercado Global:
Antes de entrarmos nos dados do mercado americano, precisamos entender o cenário global do e-commerce cross border.
O cross border já não é mais apontado como uma tendência, mas sim uma realidade, que crescerá aproximadamente 900% até 2030.
Em 2021, o e-commerce cross border foi uma atividade que movimentou cerca de 785 bilhões de dólares. As perspectivas são ainda mais otimistas, com uma estimativa de que, em 2030, o market share do e-commerce cross border será de 7,94 trilhões de dólares.
À primeira vista, pode parecer que fazer cross border é algo complexo. De fato, há questões para as quais é preciso estar atento, mas de modo geral é mais simples do que se imagina.
Uma das dificuldades apontadas está relacionada a atrasos nas entregas. Em uma pesquisa realizada pela Statista, 43% das marcas entrevistadas apontaram esse como o principal problema encontrado no cross border. Mas, se analisarmos bem, isso também acontece nos envios domésticos, não é mesmo?
Nessa mesma pesquisa, o segundo colocado com 41%, chama mais a atenção. As empresas entrevistadas citaram as regulamentações de fronteiras e o HS Code como sua segunda maior dificuldade. E é por isso que a GlobalD existe.
Essas são informações gerais do mercado global. Tendo isso em vista, vamos para os dados dos Estados Unidos:
População | 334.2 milhões |
Penetração da Internet | 92% da população usa e tem acesso a internet |
Usuários de Ecommerce | 76% da população faz compras online |
As categorias mais comercializadas | Livros, computadores e eletrônicos, brinquedos, equipamentos para escritório e roupa/moda |
Principais Marketplaces | Amazon, Walmart e eBay |
Total de venda do Ecommerce (2023) | $1.14 Trilhão de dólares |
Em 2023, os EUA ocuparão o segundo lugar globalmente no total de compradores internacionais (cross-border buyers), com 70 milhões de compradores. Ficarão apenas atrás dos 280 milhões da China, mas isso se deve ao tamanho relativo da população.
Nos EUA, o número de compradores internacionais (usuários que fazem compras cross border) aumentou em 2,3 milhões só em 2023. Isso representa um crescimento de 3,4% em relação ao ano anterior. As compras internacionais nos EUA realmente decolaram nos últimos anos, por conta da pandemia e também devido ao surgimento de ecommerces estrangeiros que ofereciam confiança, listagem de produtos em inglês, facilidade de pagamentos e remessa e devolução gratuitas ou super acessíveis.
E mais, estima-se que quase um terço de todos os compradores digitais dos EUA fará compras on-line no exterior em 2024. Isso significa que 71,8 milhões de consumidores dos EUA com 14 anos ou mais serão compradores internacionais no próximo ano, um número quase 25% maior do que o de 2019.
Neste gráfico apresentamos esses dados do Mercado Americano:
Os números são excelentes. E vale lembrar que essas informações não incluem ainda os vendedores estrangeiros que utilizam FBA (Fulfillment by Amazon) com estoque avançado, ou seja, que realizam as entregas de seus produtos a partir de endereços localizados nos próprios EUA.
Neste gráfico temos os percentuais de penetração de compradores internacionais por país. Isso quer dizer a maturidade e possibilidade de crescimento de compradores internacionais. Nele, fica nítido o potencial ainda em aberto do mercado americano que representa somente 31.9% do total de compradores online.
Agora que já entendemos o potencial do mercado americano, vamos para algumas informações mais técnicas:
Impostos, taxas e “de minimis” (valor mínimo) para os EUA
Valor mínimo (de minimis)
Taxas e impostos são cobrados apenas nas importações para os EUA em que o valor FOB total da importação exceder o limite de valor mínimo dos EUA (o chamado “de minimis”). Esse valor hoje é de $800 USD. Clique aqui para saber mais sobre o De Minimis.
FOB: FOB (frete on board ou free on board) diz respeito a situações em que o imposto é calculado apenas sobre o custo das mercadorias vendidas. Nesses casos, o imposto não é calculado sobre o transporte, imposto, seguro, etc
Imposto sobre vendas (Sales Tax)
Além do imposto de importação, os estados americanos possuem leis que estabelecem a cobrança de impostos sobre as vendas de produtos específicos (Sales Tax), que se aplicam a remessas de empresas para consumidores. Os importadores devem estar cientes dessas leis para que saibam quando precisam pagar impostos e se precisam declarar.
A maioria das empresas estrangeiras está isenta do pagamento de impostos sobre vendas de mercadorias importadas, pois essas vendas não têm “sales tax nexus” (atenção pois há variação dessas leis).
O sales tax é cobrado com base no local de destino da mercadoria, e se você tiver um sales tax nexus em um estado de destino, deverá calcular o valor desse imposto com base na localização do destinatário.
Quais são os critérios para o “sales tax nexus” nexus de imposto sobre vendas?
O “sales tax nexus” (nexus de imposto sobre vendas) existe quando o e-commerce tem uma conexão com um estado ou quando o estado de destino exige, com base em determinados requisitos, que o vendedor colete e envie o imposto sobre vendas diretamente para esse estado.
Todas as leis de nexus variam de acordo com o estado. Em geral, o nexus existe nos seguintes tópicos:
- Se você tiver uma loja física ou armazenamento/warehouse, mesmo que terceirizado, ou um funcionário que resida ou viaje regularmente para o estado em questão para realizar negócios.
- Quando suas vendas unitárias ou seu faturamento nesse estado atingirem um certo número. Ex: Mais de 200 vendas ou X mil dólares realizados no ano no estado ABC, criará o economic nexus para a empresa neste estado, obrigando-a a pagar o imposto.
HS Code e HS Tariff
HS CODE significa Harmonized System Code, que é um código utilizado internacionalmente para classificação de produtos, padronizando e facilitando a identificação das mercadorias nos processos de comércio internacional. Ele é composto por seis dígitos e é utilizado para definir a nomenclatura e a origem dos produtos exportados e importados. O HS CODE está presente em documentos comerciais, como faturas comerciais e de embarque.
Você precisará conhecer o HS Code do seu produto para receber as informações de HS Tariff (que explicaremos a seguir)
HS Tariff
HS Tariff significa Harmonized Tariff Schedule, que é utilizado pelos Estados Unidos para a classificação de produtos importados. O HTS ou HS Tariff é baseado no sistema Harmonized System (HS), que é uma nomenclatura internacional para classificação de mercadorias adotada por diversos países, inclusive o Brasil. O HTS define as taxas de imposto de importação a serem cobradas para cada produto e é utilizado na determinação dos custos de importação.
Ou seja, você precisará saber o imposto de importação do seu produto para os EUA, e para isso é utilizado o HS Code. Isso será necessário quando você superar o “de minimis” de $800 dólares, que mencionamos anteriormente.
Para esclarecer, o valor do imposto sobre mercadorias importadas para os EUA é baseado no valor total de compra do(s) artigo(s) pago(s) e não é estabelecido em elementos como qualidade do produto.
Os EUA possuem cerca de 14 acordos alfandegários, sendo um dos países com mais acordos alfandegários e tributários do mundo. Com isso, alguns países possuem zero imposto de importação em alguns produtos (mesmo ultrapassando o “de minimis”).
Um exemplo:
HS Code | 6112.41 |
Produto (com componentes) | Track suits, ski-suits and swimwear, knitted or crocheted = Women ‘s or girls’ swimwear = Of synthetic fibers. (Bikini para mulheres com 90% de fibra sintética) |
HTS (HS Tariff, imposto de importação) | Importado desde o Brasil o imposto será de 24,9% entretanto, sendo importado do Chile, Colômbia, Panamá e Peru (e mais alguns países) o imposto é zero é free (mesmo ultrapassando o “de minimis”) |
E tem mais! Para países em que foram estabelecidos bloqueios econômicos, como por exemplo Rússia e Belarus, o imposto sobre esse mesmo item é de 90%. Vale destacar, ainda, que no caso de bloqueios econômicos os EUA chegam mesmo a proibir a importação de determinados produtos.
De forma geral, o imposto de importação médio é de 5 a 6%. Sendo uma ótima tarifa com relação a outros países.
Produtos proibidos de entrarem nos EUA
Importante entender que há produtos que são proibidos de serem exportados para os Estado Unidos assim como há produtos que possuem restrições, não que não possam ser exportados, porém, necessitam de algum certificado para tal.
Alguns dos produtos que não podem ser exportados para os EUA:
- Medicamentos e drogas proibidos pela FDA;
- Absinto (tipo de bebida destilada);
- Mercadorias de países embargados;
- Itens feitos com pele de cão e gato;
- Artigos falsificados de marcas ou que possuem direitos autorais.
Produtos que possuem alguma restrição para serem importados (necessitam de certificações)
- Lentes de contato e óculos
- Saúde e beleza: suplementos nutricionais e alimentares, medicamentos e drogas, cosméticos, instrumentos odontológicos, produtos veterinários, artigos médicos e farmacêuticos
- Produtos de origem animal
- Eletrônicos de consumo: CD-ROMs, players de CD, computadores com unidades de CD/DVD, fornos de micro-ondas, televisões com tubos de raios catódicos e produtos infravermelhos
- Produtos químicos
- Madeira e produtos de madeira
- Certos itens alimentares
- Casa e decoração: utensílios de mesa
Para se acessar uma lista detalhada, deve-se checar o site do CBP.
Diferentemente do Brasil, onde a empresa importadora necessita ser certificada (como RADAR entre outros), nos EUA a empresa exportadora e importadora não necessita de uma certificação específica. Em alguns casos se faz necessário uma licença dos EUA para fora, mas aqui estamos focando em exportar para os EUA e não dos EUA.
Resumindo, conforme a lista acima você precisará de uma certificação para o produto (e não da empresa) para poder exportar para os EUA.
Principais Certificações
Sobre as certificações, confira as mais comuns e mais requisitadas:
- Certificação HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Points) para produtos alimentares, como peixes, suco e produtos enlatados com baixa acidez.
- Certificação FCC (Federal Communications Commission) para dispositivos eletrônicos emitindo ondas de rádio, como Wi-Fi, Bluetooth e Zigbee.
- Certificação UL (Underwriters Laboratories) para equipamentos elétricos e eletrônicos.
- Certificação ANSI (American National Standards Institute) para produtos que garantem a segurança do usuário, como capacetes para motociclistas.
- Certificação FDA (Food and Drug Administration) para medicamentos, dispositivos médicos, produtos alimentares e cosméticos.
- Certificação CARB (California Air Resources Board) é exigida para produtos compostos por madeira vendidos na Califórnia e em alguns outros estados.
- Certificação TSCA (Toxic Substances Control Act) regulamenta todas as substâncias e misturas químicas, como bebidas alcoólicas, tintas, vernizes, produtos químicos de limpeza e outros produtos químicos.
É importante lembrar, que há muitas indústrias que não necessitam de certificações. Produtos de uso geral, como moda e decoração, não necessitam de certificações para entrarem nos EUA. Ainda assim, sugere-se sempre a verificação, que pode ser realizada por empresas especializadas e que podem auxiliar este processo.
Envios internacionais
No passado, a dificuldade para fazer cross border estava principalmente em questões logísticas. Prazo e custo de entrega eram altos, tornando o cross border pouco competitivo. Entretanto, devido ao crescimento dessa modalidade, empresas de courier passaram a ofertar melhores condições por meio de modais aéreos ágeis, além do tradicional modal marítimo.
Entre essas empresas, algumas que se destacam são:
- Correios Exporta Fácil: uma excelente opção, que funciona muito bem, em que o e-commerce poderá realizar seus envios de qualquer agência dos Correios espalhadas pelo Brasil. Conta com prazos atrativos, bons preços e avaliações de ecommerces que têm utilizado essa solução.
- DHL: muito utilizada para cross border (não só para os EUA) e com grande capilaridade na América Latina, possui um dos melhores prazos de entrega. Seu preço pode ser um pouco mais alto, porém, pela velocidade de entrega, mostra-se uma alternativa interessante.
- FedEx: além de ser uma das principais empresas logísticas internas dos Estados Unidos, também possui forte presença global, oferece bons preços e apresenta prazos interessantes, além de possuir boas avaliações.
Além disso, é importante lembrar que as companhias aéreas têm executado um excelente trabalho com seus braços de logística, como por exemplo a Azul Cargo Express, que possui voos próprios e diários para os Estados Unidos.
Deve-se também se lembrar de avaliar possíveis custos adicionais, conforme a operadora logística escolhida, como por exemplo: seguro, assinatura do cliente na hora da entrega, tratamento especial para o produto/carga, entre outros.
Para quem busca fazer um inventário avançado e opta por maiores volumes, transportados por meio de containers, a sugestão é utilizar empresas tradicionais do mercado como a MAERSK.
Fonte:
https://www.insiderintelligence.com/content/more-us-consumers-becoming-cross-border-buyers
https://www.fedex.com/pt-pt/customer-support/faq/customs/customs-codes/what-is-hs-code.html
https://www.trade.gov/harmonized-system-hs-codes
https://www.trade.gov/free-trade-agreements
https://www.fda.gov/industry/importing-fda-regulated-products
https://www.epa.gov/formaldehyde/formaldehyde-emission-standards-composite-wood-products